segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Hierofanias: Sagrado ou Profano?


           O escritor e jornalista angolano, José Luís Mendonça escreveu um artigo para a Revista Austral, edição 89 da TAAG Linhas Aéreas de Angola, muito interessante. O texto faz referência à obra “Ilundo: Espíritos e Ritos Angolanos” de Óscar Ribas publicada originalmente em 1958.    O artigo trata do culto tradicional das sociedades banto angolanas. José Luís Mendonça discorre sobre a influência dos espíritos  na   religião negra, e muito  bem sustentado, fala sobre o sagrado e o profano e suas  “manifestações  das realidades sagradas”.


O que seria então hierofania?
Segundo o historiador de religiões e filósofo romeno Mircea Eliade, o termo é dicotômico. Demonstra que é em torno da consciência da manifestação do sagrado que se organiza o pensamento do homo religiosus. Este acredita em uma realidade absoluta, o sagrado, e desse fato assume no mundo uma forma de existência específica.
O sagrado manifesta-se sob diversas formas: ritos, mitos, símbolos, homens, animais, plantas, etc.
Ele manifesta-se qualitativamente de forma diferente do profano e chama-se hierofania, a irrupção do sagrado por intermédio do mundo profano.
Eliade considera que “O ocidental moderno experimenta certo mal estar diante de inúmeras formas de manifestação do sagrado.” É natural temer o que não se conhece ou questionar a cultura de quem pratica certas formas de crença. Ateus não creem na existência de Deus. Para muitas pessoas não cristãs, Jesus Cristo foi um homem comum e de forma alguma o santo filho de Deus. Em alguns ritos africanos cultuam-se os rios, a terra, as plantas, o vento, a caça e muitas outras formas e objetos. “É-lhe difícil aceitar que, para certos seres humanos, o sagrado possa manifestar-se em pedras ou árvores, por exemplo,”. Mas, (...) não se trata da veneração da pedra como pedra, de culto a árvore como árvore, são-no justamente porque são hierofanias, porque “mostram” qualquer coisa que não é pedra nem árvore, mas o sagrado, o <<ganz andere>> (ELIADE, 21).

Profano é todo aquele objeto, pessoa, elemento da natureza que faz parte das coisas comuns do nosso mundo. A manifestação de algo <<de ordem diferente>> de uma realidade que não pertence ao nosso mundo natural “profano” é então sobrenatural, portanto, hierofania.
Esse é o ponto que Mendonça despertou em relação ao “Ilundo”. Óscar Ribas reúne em sua obra um patrimônio único da oralidade africana, apontou sabedorias do “Quimbanda”, um misto de médico e botânico, direcionado por espíritos.
Como já se disse antes, a obra “Ilundo” trata das hierofanias da sociedade banto angolana, apresentando nas suas manifestações espirituais, ou ideais, formada pela cresça em, “Entes Sobrenaturais” e as suas manifestações naturais, ou formas visíveis e palpáveis de expressar a sacralidade, que começam pela presença dos “Ministros do culto”, chegando até os Ritos Diversos”. A obra tem uma nota de ‘Esclarecimento’, uma ‘Introdução em um ‘Elucidário’ final, constituindo no seu todo 205 páginas úteis.
Temos vários exemplos de hierofanias em diversos cultos e religiões. O catolicismo pratica a veneração aos santos e cultuam sua representação em imagens de gesso ou esculpidas em madeira. Os fiéis afirmam ter recebido do santo, a realização de um milagre. O reconhecimento desse milagre pela Igreja Católica, em seu processo de canonização, faz do homem comum, um santo. A manifestação da fé atribuída a esse homem agora santificado, consagrado, é uma forma de hierofania.
O protestantismo em suas várias denominações também tem suas hierofanias. As Igrejas Pentecostais baseadas no livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 2 da Bíblia Sagrada, afirmam que seus membros manifestam o “Espírito Santo” ao falar em ‘Línguas Estranhas’, prever o futuro pelo “Dom da Revelação de Deus” e fazer movimentos estranhos com o corpo. Alguns chegam a imitar movimentos como o da pomba, por ser o pássaro a representação do Espírito Santo, mencionado na Bíblia.

A própria Bíblia é uma hierofania. O livro reúne vários outros livros e epístolas, denominados Evangelho. A Bíblia é um livro sagrado para o cristão, pois nele está “A Palavra de Deus”. Para outros é apenas um livro histórico, com alguns fatos não reconhecidos pela Arqueologia e pela própria História. O que a torna sagrada é a crença que nela está “a palavra de deus”. O livro pelo livro é natural, é “profano”.
Poderia ainda falar sobre Judeus, Islâmicos, Ortodoxos, Hindus, Rituais Indígenas e todos os outros cultos, porém o que importa para o ser humano é crer em algo ou alguém. Cada pessoa tem a sua forma particular de encontrar o equilíbrio interior e de se relacionar com o mundo espiritual.  

Sabrina de Oliveira




Referência Bibliográfica: ELIADE, Mircea, O Sagrado e o Profano – A Essência das Religiões; livros do Brasil, p.21, Lisboa, (sem data).
Revista Austral, TAAG, edição 89, Jan. e Fev./2012. 





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